TEMPOS DE MÚSICA - PARTE 8 - TITO MADI


                                                    Tito e eu, lá em casa no meu niver de 60 anos



Começo esse Blog em homenagem ao querido e saudoso amigo Tito Madi com um texto publicado há poucos dias, no Facebook, com sua biografia:

"Chauki Maddi nasceu em Pirajuí - SP no dia 12 de julho de 1929, adotou o nome artístico de Tito Madi e se tornou um dos mais importantes nomes do Samba-Canção e da geração que antecedeu à Bossa Nova!

De origem libanesa, Tito Madi começou a se interessar por música ainda na cidade natal, sendo que seu pai tocava alaúde e iniciou os filhos em vários instrumentos!

Cantor, compositor e violonista, Tito Madi tinha muita bossa, e com ela construiu pontes que ligaram o samba-canção (seu gênero por excelência) à novidade trazida pelo baiano João Gilberto!

Contudo, o que Tito Madi tinha de mais acentuado era a fossa, tanto que gravou 04 álbuns com tal palavra no título! 

Embora fosse um doce como pessoa, suas composições eram tipicamente tristes, mas elegantes nas letras e melodias!

Muitos foram os cantores que interpretaram suas canções (Nana Caymmi, Caetano Veloso, The Platters, Wilson Simonal, Dolores DURAN, etc.), mas em regra, o melhor intérprete de suas criações era o próprio Tito!

Cantor de voz grave e aveludada, Tito Madi tinha como grande diferencial o estilo mais comedido, sem os excessos dramáticos típicos do samba-canção, influenciando bastante a Bossa Nova que surgiria na sequência!

Entre as principais músicas que compôs estão Balanço Zona Sul (1963), Chove Lá Fora (1957) e Cansei de Ilusões (1956)!"

Esse foi o "post" do Facebook

Eu gostaria de mencionar outras composições de sucesso como Menina Moça, Quero-te Assim, Sonho e Saudade, Não diga não, Fracassos de amor, Carinho e amor, Saudade Querida e  Chove outra vez. 

Tito era um perfeccionista, super afinado e preocupado com a qualidade dos arranjos de seus discos, sempre buscando músicos excelentes para acompanhá-lo, como é o caso do Chiquinho do Acordeón (Romeu Seibel), outro amigo que já se foi, e exigindo grandes arranjadores e orquestras, como a de Radamés Gnattali. Ambos o estão acompanhando em uma de suas mais conhecidas canções, Gauchinha Bem Querer:



Em 1957 sua composição Chove Lá Fora ficou meses no primeiro lugar das paradas de sucesso, como a que Jair Amorim apresentava semanalmente aos domingos na Radio, no programa Campeões de Popularidade.


                                        Doris Monteiro, Tito e Joyce: Chove Lá Fora

Chove Lá Fora foi uma das primeiras músicas que aprendi a tocar no acordeón e era muito solicitada.

Mal podia pensar que um dia conheceria pessoalmente o autor e nos tornaríamos amigos.

Sua carreira, como foi mencionado na biografia acima foi sempre ligada a músicas românticas e ele foi um dos cantores da época do rádio que soube fazer a transição para a TV mantendo um sucesso permanente, com um público cativo que também comparecia e prestigiava suas apresentações em boates e clubes.

Apesar de interpretar nos shows inúmeras canções de sua autoria, seu repertório incluía músicas de Cartola, Lamartine Babo, Ary Barroso, Lupicínio, Fernando Cesar e outros. contemporâneos, como Tom, Vinicius, Chico, Lyra e Francis Hime, só para citar os mais conhecidos. 

Embora convidado, não participou diretamente do movimento da Bossa-Nova, mas  se relacionava com todos os seus componentes e até compôs um samba que foi considerado um elo entre os dois gêneros: Balanço Zona Sul, cuja história encontra-se no vídeo a seguir:



                                                 Tito Madi, Balanço Zona Sul e Minha 

Nos anos 80, a convite de um amigo, Heitor de Almeida (ex-BB e aposentado do Banco Central), que era da turma do tênis na AABB da Lagoa, eu passei a  almoçar diariamente no Restaurante do Club Comercial do Rio de Janeiro, na rua da Candelária 11. O local era muito próximo a meu local de trabalho no BB (Esquina de Rio Branco com Presidente Vargas).  

Antes do almoço sempre dava uma passada no bar, invariavelmente cheio, e onde, através do Heitor e outro amigo, Waldozir eu fiz novos contatos e conhecimentos, que acabaram se transformando em amizades. Entre eles destaco o Sacha Rubin, o Djalma Boechat e o Julio Avellar.

Essa rotina diária veio substituir a de uma companhia de almoço que tive durante anos com meu grande amigo, Neco Espírito Santo, que havia sido transferido para o exterior. Durante anos nós íamos almoçar no Restaurante Olímpico, na Travessa do Ouvidor,  que era propriedade de seu sogro Benjamim.

Mas voltando ao Clube Comercial e a seu Bar, comandado pelo Camelo, que também nos fornecia Whisky contrabandeado, um belo dia, entre um drink e outro enquanto esperávamos que o Maitre Faustino nos avisasse que o prato escolhido estava pronto, tivemos a idéia de inovar com uma happy hour nas sextas-feiras, e, como não poderia deixar de ser, alguém deu a idéia de comprar um piano para que sempre houvesse um fundo musical naqueles dias.

Fui encarregado de encontrar um piano usado, barato e em bom estado. Lembrei de um antigo Essenfelder, que me encantou pelo som, na casa de um amigo dos anos 50. E fixei minha busca em encontrar um da mesma marca e antigo, o que acabou ocorrendo, com alguma dificuldade. 

Comprado o piano e contratado um pianista, que saía correndo às 20,30 para tocar no Chico´s Bar na Lagoa, deixando comigo a última meia hora, começamos a imaginar apresentações com artistas, cantores ou pianistas, uma vez por mês. Seriam 3 happy hours só com piano e uma com show.

O primeiro a ser lembrado foi o Tito Madi, que então se apresentava em temporada no Bar da Casa da Suiça que era situado no subsolo do prédio,  juntamente com o Ribamar, conhecido pianista e compositor, parceiro da Dolores Duran em uma de suas músicas mais belas, Pela Rua.

                                            Pela Rua = Ribamar e Dolores Duran, por Maysa


Terminada a apresentação batemos um longo papo em que comentamos sobre amigos comuns e acontecimentos mais ou menos conhecidos. Ao fim de uma hora já éramos amigos. E foi combinada a apresentação no Bar do Club Comercial que aconteceu, com muito sucesso, no mês seguinte.

Na ocasião, quando ele deu o recibo para que eu mandasse para o Tesoureiro do Clube é que tomei conhecimento do seu nome, Chauki Maddi. 

Ele então nos disse que ia iniciar uma temporada em uma casa na Tijuca, na rua São Miguel, que na época chamava-se Excalibur.  Na semana seguinte fomos até lá e qual não foi minha surpresa ao reconhecer que naquela casa morou um amigo de meu pai e toda vez que voltávamos do Alto da Boa Vista e passávamos em frente à casa ele sempre repetia... fulano meu amigo mora aqui. A memória me falha e não lembro o nome.

Mas de fato era uma casa toda de pedra e está lá até hoje, embora o bar já tenha fechado há muito tempo.

Daí pra frente Tito e eu nos encontramos poucas vezes mas volta e meia nos falávamos por telefone até que fui transferido para New York em 1986 e ele na época ficou sabendo.

Em novembro de 1987, o Luíz, dono do Restaurante Via Brasil, na rua 46, local que eu frequentava para almoço com alguma regularidade, me disse que havia contratado o Tito Madi para uma apresentação e eu então liguei para ele e me ofereci para buscá-lo no Aeroporto e levá-lo para conhecer os pontos mais famosos da cidade.

Foi uma alegria. 

Na época um outro grande amigo, Helio Banal de Albuquerque e sua esposa Bebel, estavam na cidade e marcamos um "tour" por downtown, ocasião que fomos até às Twin Towers, alvo daquele ataque pavoroso em 2001. Tenho esse registro fotográfico, em frente ao World Trade Center, onde aparece também o Helvius Villela que era na ocasião o pianista que o acompanhava.




                          Helio Banal, Tito Madi, Helvius Villela e eu, foto by Bebel. NY-1987


 O frio estava intenso, e cheguei a temer que as pessoas não aparecessem no show, mas foi um sucesso. Os Gerentes do BB compareceram com suas esposas e aí está uma foto do Neco com as madames e o Tito, na porta do Via Brasil.



E a seguir uma foto do Tito com o Helvius durante o show:



Tito, diabético que tomava insulina todas as manhãs, viu-se em apuros no hotel antigo em que ficou hospedado, e que não tinha frigobar.  Mas descobriu uma saída, colocando a insulina do lado de fora da janela, no parapeito, e com a temperatura zero ou até abaixo de zero conseguiu manter o medicamento em condições de ser usado.

Quando estive em férias no Rio, cerca de ano e meio depois, levei minha mãe para assisti-lo em uma casa noturna no Leblon, na rua Bartolomeu Mitre, e ele teve a generosidade de me citar durante o show como tendo sido seu cicerone e acompanhante em NY e que estava com minha mãe na platéia, a quem ele dedicaria sua próxima música. Cantou Fascinação. Foi uma beleza. Mamãe ficou emocionada, e eu também.

Muitos anos e vários encontros depois chegou meu aniversário de 60 anos, em outubro de 2000, e eu contei a ele que nossa amiga Claudette Soares ia fazer um show lá no meu apartamento, na Barra da Tijuca com seu pianista e um saxofonista. E o Zé Maria, cantor e pianista da noite carioca, iria tocar para ouvir e dançar. Ele imediatamente disse que queria ir e cantar também. Eu fiquei muito feliz mas lhe disse estar preocupado com o orçamento da festa e que só poderia aceitar se ele dissesse qual o "cachê".  Ele riu e me disse, se é assim, paga o boleto deste mês do meu plano de saúde... E assim foi feito. Além de ir, cantar sozinho e com a Claudette, ainda levou um amigo, Lysias Enio, irmão do João Donato e co-autor de um clássico de nossa música, que logicamente foi lembrado e cantado "Até quem sabe".

A seguir fotos do meu aniversário, outubro de 2000:






 e uma lembrança da música "Até Quem Sabe" pelo autor João Donato já no fim de carreira:



                                                 João Donato e Nelson Faria: Até quem sabe


A última vez que vi o Tito foi em 2015, em uma noite de autógrafos de outro amigo, Ruy Castro, quando este lançou seu livro "A Noite do Meu Bem" na Livraria Travessa de Ipanema.  Ele estava em uma cadeira de rodas e quase não falava. Fiquei muito chocado e com pena de que ele tivesse um final tão doloroso. Uma pessoa tão importante na história de nossa música romântica, bom amigo, bom caráter e muito simples. 

Tito nos deixou em 26 de setembro de 2018. A chuva lá fora nunca mais será a mesma...











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