NEW YORK - 1986 a 1991 - ÓPERAS, CONCERTOS E SHOWS - 1a. parte


                Lincoln Center: Metropolitan Opera House, Filarmônica e Ballet


Para quem, como eu, sempre adorou música de qualidade em todas as suas formas, o Lincoln Center em New York foi o local que mais frequentei nos anos em que residi naquela cidade (1986/1991) e de onde tenho mais saudade.

Na foto acima vê-se ao fundo o Metropolitan Opera House, MET, meu lugar favorito e onde assisti a  muitas óperas, seja em récitas avulsas ou  em temporadas completas. 

À direita da foto o  então  chamado Avery Fischer Hall, sede da Orquestra Filarmônica de New York,  hoje chamado de David Geffen Hall e que na época tinha como diretor musical e regente Leonard Bernstein e anos depois, quando ainda lá morava, Zubin Mehta.

À esquerda o prédio onde se localiza a sede do New York Ballet, David Koch Theater. 

O conjunto é belíssimo e no verão colocam guarda-sóis e mesas onde se servem refeições ligeiras e é um bom ponto-de-encontro para uma happy-hour antes de assistir a um espetáculo.

Em março de 1984, na primeira vez em que estive naquela cidade, fiz contato com minha prima Virginia Youle, que residia em Connecticut, e que não conhecia pessoalmente pois quando estive na Inglaterra ela já havia se mudado para os Estados Unidos e casado com um americano, Diran Tashian.

Ela foi extremamente simpática e me disse que iria naquela semana a New York assistir à sua ópera favorita, Don Carlo, de Verdi, e perguntou se eu topava ir junto. 

Topei na hora e marcamos um encontro na bilheteria do MET. 

Foi como ser apresentado a um outro mundo. Além do impacto que é adentrar aquele imenso e famoso teatro, iria assistir, também pela primeira vez a três cantores famosíssimos na época: Plácido Domingo, Mirella Freni e Grace Bumbry, sob a regência do Diretor Musical do Met, James Levine.


    
                                        Cartaz da Ópera Don Carlo, encenada no MET, NY.

Quando o espetáculo estava para se iniciar observei, encantado,  os lustres subindo em direção ao teto, ao tempo em as luzes iam diminuindo. Essa imagem ficou para sempre na minha memória.

Daí para frente não sabia mais o que era mais belo, as vozes, a montagem, o som da orquestra e o gestual do Maestro. Era uma harmonia só. E só aí pude comparar e dar valor às temporadas a que assisti em nosso Theatro Municipal do Rio de Janeiro, com muito menos recursos cenográficos, mas com belas montagens e muito esforço para trazer cantores de categoria e renome.

Nas noites de folga daquelas viagens eu fui a alguns shows na Broadway (os primeiro foram 42nd Street e Cats), mas até então tinha apenas vontade de um dia morar em NY.  Quando essa vontade virou realidade eu já saí daqui imaginando no que iria poder ver e ouvir.




                                     Cartazes dos dois primeiros shows que assisti na Broadway

O musical CATS, de Andrew Lloyd Weber, o mesmo que anos depois nos presenteou com o Fantasma da Ópera, ficou mais de 20 anos na Broadway e depois, como quase todos os grandes sucessos, virou filme. Tinha como ponto alto o solo da cantora e atriz Elaine Paige na música considerada uma das melhores de toda a história da Broadway: Memory.

https://youtu.be/mdBVJbzkoqo?si=U5Npb--Ih766WcKd

Logo após minha chegada e posse no BB, meus grandes amigos, Fátima e Neco Espírito Santo - colega desde quando trabalhávamos juntos na CREDI e depois na DICAM - e que era na ocasião um dos Gerentes-Adjuntos do BB naquela cidade e na casa de quem me hospedei até que a família e a mudança chegassem, foram logo combinando de fazermos uma assinatura para a temporada 1986/1987 e foi assim que conseguimos assistir, os dois casais, a espetáculos maravilhosos.

Na ocasião não logramos achar ingressos para a abertura da temporada, o que ocorreu no ano seguinte porque então já tínhamos o histórico de assinantes e nos inscrevemos com bastante antecedência.

Foi uma noite de gala. Smoking e longos. Clarins nas escadarias. VIPs da cidade presentes, artistas, um luxo. Nós conseguimos lugares lá em cima, na galeria, mas assistimos, como os demais, a pompa e circunstância da entrada.

Como lembrança, comprei um chaveiro na lojinha de souvenir do MET, que guardo com muito carinho como uma recordação daquela noite maravilhosa, 21/09/1987. Pena que na ocasião não havia "selfies".



                                Recordação da Noite de Abertura da Temporada do MET em 1987


A Ópera não poderia ser mais impactante: Otello, de Verdi, com os melhores cantores da época, Placido Domingo, Kiri Te Kanawa e Sherryl Mines. Regência de James Levine. Depois consegui comprar o DVD, que tenho até hoje.

https://youtu.be/d5SjaNtVFcs?si=9QWkkHgT3Y-qSvrV

Naquele mesmo ano assistimos a uma Bohème inesquecível com Pavarotti e Mirella Freni e outras menos conhecidas como Lohengrin e Ariadne Auf Naxos.

Foi uma temporada fantástica. Nem o frio das noites de inverno nos assustava. Era lindo apreciar as mulheres com seus casacos de peles desfilando no "foyer" do MET. 

E como era democrático ver muitas delas depois do espetáculo pegando o subway ao lado das trabalhadoras que iam para o Bronx.  Afinal, nós todos morávamos acima do Bronx, no condado de Westchester. 

Quando não estávamos de carro, íamos de Metrô até a Grand Central Station e de lá pegávamos o trem da linha Metro-North em direção a North White Plains passando por Bronxville, Tuckahoe, Eastchester, Scarsdale, Hartsdale, etc

Depois das 20 horas não havia trem expresso e ele parava em todas as estações do Bronx de modo que todos iam juntos e misturados. Sem problemas nem constrangimentos. 

Além do MET e da Broadway ficávamos de olho na Filarmônica e no Blue Note, maior templo de Jazz da cidade.

Depois do retorno do Neco ao Brasil continuamos indo a Manhattan em companhia de novos amigos que fizemos por lá e antigos amigos, do Rio, como é o caso do casal Orlando Galvão e Mary,  e do casal Augusto Cesar e Lucinha Xavier de Brito. 

O Avery Fischer Hall programava 8 concertos para cada assinatura e quase todos regidos por Lenny Bernstein. Solistas famosos como Khristian Zimmermann e Emmanuel Ax ao piano, Yo-Yo-Ma no Cello e Gideon Krammer no Violino, também se apresentavam com a Orquestra. Eram fantásticos.

Um certo domingo, véspera do concerto do Krammer,  foi realizado um ensaio aberto, pago, com direito a brunch ao final. Nesse dia desci de carro e estacionei no Lincoln Center, chegando cedo para conseguir um bom lugar bem próximo da orquestra, para ouvir as observações do Maestro Bernstein.  E assim pude apreciar cada instrução nas interrupções do ensaio e os comentários do solista.

Após encerrado o ensaio fomos para o brunch no foyer e o "monstro sagrado" Leonard Bernstein veio de mesa em mesa cumprimentar a todos. Só lamento que não tínhamos na época os celulares de hoje em dia para registrar uma selfie ao lado de um dos maiores de todos os tempos, em sua suéter vermelha.

Amigos que chegavam para passar dias na cidade, alguns que se hospedavam lá em casa inclusive, também nos faziam companhia nas aventuras musicais. Armando e Sylvinha, Paulo Ruy e Beatriz, Helio e Bebel Albuquerque, Narciso e Vera e tantos outros foram companheiros na Broadway, nos concertos e no Ballet.

Com o Augusto Cesar Xavier de Brito e sua esposa Lucinha ocorreu um fato inesquecível quando  fomos a um show da Broadway, "Black and Blue".  Era um espetáculo de sapateadores famosos, entre eles Gregory Hines, que naquela época havia atuado em um filme de grande sucesso, TAP.  Quase todos os atores do filme participaram da peça, à exceção do Sammy Davis Jr.

Mas o fato que marcou aquela noite não foi o espetáculo, por sinal excelente.  Poucos minutos antes de começar o show, nós já sentados e as luzes se apagando, entrou um casal em nossa fila e pediu licença para passar naquele espaço apertado entre as costas da cadeira da fileira da frente e nossos pés. O Cesar e eu levantamos para facilitar, mas mesmo assim a mulher pisou no pé dele ao passar, virou-se muito sem graça e pediu desculpas. Foi aí que vimos de quem se tratava: nada menos que Jackie Kennedy. 

Ela ficou ali assistindo ao nosso lado e nós sem saber se olhávamos para ela ou para o palco. Ela tinha uma grande presença.

Até hoje brinco com o Xavier perguntando se ele guardou aquele sapato, e nunca mais usou ou engraxou...

Pois era assim a N.Y. daquela época. Encontrei vários artistas conhecidos em restaurantes, bares e até na rua. Ninguém olhava duas vezes ou ia atrás. 

Uma vez entrei no restaurante Palio,italiano de alta categoria que funcionava no segundo andar e tinha um lindo e grande bar no térreo, e logo na primeira mesa do bar estavam Jane Powell e Marvin Hamlisch. 

Ele era o maestro e arranjador dos shows da Barbra Streisand, compositor famoso e premiado, inclusive com Oscar de melhor música (The way we were) e trilha sonora de Nosso Amor de ontem Chorus Line, Golpe de Mestre, Castelos de Gelo e muitos outros. 

Ela, atriz, bailarina e cantora, musa dos musicais da Metro como Sete Noivas para Sete Irmãos e Núpcias Reais. Fiquei ali parado olhando para os dois, meio abestalhado, na porta do elevador para o Restaurante. Durante segundos me dei conta que estava olhando para dois monstros sagrados do cinema e da música. Eles papeando e tomando drinks.

Ainda me referindo à Broadway, tive o privilégio de lá estar quando estrearam dois dos melhores shows de todos os tempos: The Phantom of the Opera e Les Miserables e eu assisti a ambos com o elenco original. O Fantasma era o Michael Crawford e a Cristine a Sarah Brightman.


'Music of the Night' - Michael Crawford and Sarah Brightman | The Phantom of the Opera (youtube.com)


Continua ...

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