TEMPOS DE MÚSICA – PARTE 7 - CLAUDETTE SOARES
De todas as cantoras que conheci
com certeza a Claudette foi e é a maior amiga e a quem admiro muito, seja como
pessoa, seja como profissional.
Claudette Colbert Soares (fácil
perceber que os pais eram fãs da grande artista), nasceu no Rio de Janeiro em
31/10/1937. Até hoje lhe dou os parabéns no dia do Halloween e digo que ela é
minha bruxinha favorita.
Assim como outras cantoras, foi
revelada na Rádio Nacional e passou pelo Clube do Guri, na Rádio Mauá. Anos depois eu passaria pelo mesmo programa,
mas já na TV Tupi.
Quando Luiz Gonzaga a conheceu
cantando no programa “Salve o Baião” apelidou-a na hora de Princesinha do
Baião, e durante muito tempo ela foi chamada assim. Na época sua principal companheira musical foi Ademilde Fonseca.
Mas foi a Bossa Nova quem lhe
abriu novos horizontes quando, convidada por Silvinha Telles, foi substitui-la
na boate do Hotel Plaza, em Copacabana, onde se apresentou com Luiz Eça, João
Donato, Baden Powell e Milton Banana, e muitos outros excelentes músicos que lá se
revezavam.
Havia também um rapaz que sempre
aparecia com umas músicas debaixo do braço pedindo uma chance, que depois lhe
foi dada pelo Carlos Imperial: Roberto Carlos. Mas isso é outra história. Por
coincidência ou não, o maior sucesso de Claudette até hoje foi “De tanto amor” que,
segundo consta, foi um presente de casamento dado por RC, seu padrinho. O
casamento com o pianista Julio Cesar Figueiredo não durou muito mas o sucesso da
música continua. E foi seguido por outra composição do Rei: Como é grande o meu
amor por você.
Seu estilo sempre foi próprio,
suas interpretações diferenciadas pela emoção que transmite através de sua voz,
sua presença no palco e na frente do microfone a faz crescer e nem parece que
tudo isso se contém em 1 metro e meio de altura.
Claudette foi a maior e principal
divulgadora da Bossa Nova em SP com suas apresentações na Baiúca, Cambridge e
no João Sebastião Bar, lançando novos compositores, novos músicos, e sempre
muito amiga e generosa com suas colegas. Lembro que até recentemente se
apresentava com Alaíde Costa, Eliana Pittman, Doris Monteiro em show cujo
título dizia tudo: As Divas do Sambalanço.
Com Alayde Costa e Johnny Alf
Eu a vi pela primeira vez no Rio, quando ela
se apresentou uma no Associação Atlética do Grajaú, bairro onde morava. Fiquei impressionado com sua energia e senso
rítmico, mas não tive oportunidade de conhecê-la. Ainda cantava baiões, e fazia
muito sucesso com eles.
Mas foi em SP, muitos anos depois, na Baiúca, que voltei a vê-la e na ocasião ela estava de namoro com meu primo e irmão da Maysa, Cibidinho, no apartamento de quem eu me hospedava quando lá ia nas férias.
Todas as noites nós íamos à Baíúca e de lá saíamos para jantar, no Gratiné, restaurante que não fechava e onde a boemia se reunia até alta madrugadaT. E aí começou uma amizade e bem
querência que nunca mais teve fim.
Depois disso nos encontramos em 1966, quando ela veio fazer um show de tremendo sucesso no Teatro Princesa Isabel, no Rio, quando se apresentou com Taiguara e o Jongo Trio: "Primeiro Tempo 5x0".
Apesar da distância, nunca deixamos de nos falar ao telefone, trocar mensagens e nos cumprimentar em datas comemorativas.
No ano 2000 ela estava passando uma temporada no Rio e na ocasião a empresa para qual eu trabalhava resolveu produzir um disco comemorativo pelo seu Jubileu de Ouro que ocorreria no início de 2001, com o objetivo de presentear seus associados. As músicas foram escolhidas entre os maiores sucessos nacionais e internacionais do ano da fundação, 1951. Lembrei-me dela e da Dóris Monteiro e ambas gravaram duas faixas cada.
As gravações aconteceram já no segundo semestre de 2000 e na ocasião, comentei que tinha muita vontade de dar uma festa para comemorar meus 60 anos, mesmo porque quando fiz 50 não foi possível pois estava trabalhando em New York, longe da mãe, da filha e do irmão, sem falar nos amigos.
Daí ela imediatamente se prontificou a fazer um show no meu apartamento ficando inclusive de levar os músicos que a acompanhavam na época, um pianista e um saxofonista. A idéia foi crescendo e a ela se juntaram meu amigo Tito Madi, de quem falarei mais adiante, e o pianista Zé Maria, longo conhecido das noites cariocas. E ainda tive a surpresa do Tito levar o Lysias Enio, irmão de João Donato, seu parceiro em inúmeras canções, dentre elas a clássica "Até quem sabe".
Uma panorâmica do grande evento
Tito Madi, Claudette e Zé Maria
Como se não bastasse o inesquecível show que ela e o Tito deram, ao final pediu que eu e ela cantasse juntos uma canção, e acompanhados pelo Zé Maria cantamos "Boa noite amor", música que era o prefixo do Francisco Alves. Minha família toda presente, muitos amigos e minha mãezinha com
lágrimas nos olhos.
No ano seguinte ela se apresentou no aniversário de um grande e saudoso amigo, Narciso Carvalho, e no meio do show chamou-me ao palco e pediu que eu a acompanhasse em duas músicas da Maysa, Resposta e Ouça e a seguir Eu sei que vou te amar. Muitos presentes eram, assim como o aniversariante, ex-colegas do Banco do Brasil onde eu durante muito tempo conseguia, com prazer mas algum sacrifício, harmonizar a vida de bancário e músico.
Em 2015 o jornalista Ruy Castro lançou um livro "A noite do meu bem", uma viagem pela época de ouro do samba-canção e a Claudette foi muito citada e voltou a ser solicitada. Surgiram vários convites para shows e sua carreira tomou novo impulso. Viagens, apresentações em vários estados, novos projetos, o CD com músicas da Maysa e mais recentemente com músicas do Chico Buarque.
Em março de 2023, Claudette veio ao Rio para estar presente na posse do Ruy na ABL. Fomos juntos e pude sentir como ela é querida, sendo reconhecida, cumprimentada e elogiada por grande parte dos inúmeros presentes na recepção, na sede da Academia.
Uma das "fãs" que veio cumprimentá-la e tive o prazer de conhecer pessoalmente foi a Fernanda Montenegro. Após o evento, na passagem para uma sala onde aconteceriam os cumprimentos, puxei o Ruy pelo braço e apontei para baixo, ao me lado, e foi assim que ele a viu e abraçou e nós "furamos" a fila.
Como parte do lançamento desse último disco, Claudette canta Chico Buarque, minha querida amiga quase aos 87 anos, em plena
atividade, apresentou-se recentemente, com grande sucesso em Curitiba, iniciando uma turnê nacional. Que Deus lhe continue
dando saúde e que tenha um enorme sucesso nessa nova empreitada.
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