SEGUNDA DÉCADA – 1950 A 1960

 

A segunda década foi a que vivi a plenitude de minha adolescência e juventude; fiz amigos, tive a primeira namorada, cursei no Externato São José o curso ginasial e científico, iniciei minha vida profissional na música, comecei a dirigir e a participar de uma administração no clube do bairro, me preparei para um vestibular e para uma carreira que não tinha a certeza se seria o meu futuro, e por isso também não me dediquei e fui reprovado.

 

1 - EXTERNATO SÃO JOSÉ



Foi onde foi forjada minha formação, meus conhecimentos, minha religiosidade, meus princípios, minha admiração pelo saber, leitura e apreço aos professores e principalmente aos amigos que conquistei e compartilhei para o resto da vida

Curiosamente todos os amigos do São José com os quais até hoje convivo e troco mensagens, não eram naquela época os colegas mais chegados. Isso era fácil de compreender porque naquela época havia as divisões naturais entre os esportivos, os estudiosos, os mais bagunceiros, os sonsos, os chatos, etc e no meu caso eu fazia parte de um pequeníssimo grupo que já se ligava muito em música. Desses me lembro bem do Celso Omena Brando, que tocava guitarra eletrica e havaiana, e o Paulo Cesar Rodrigues que cantava e se acompanhava ao violão.

Sendo assim, não fazia maior liga com a imensa maioria dos colegas, talvez fosse até considerado um chato excêntrico que não participava de nada.

Talvez minha maior frustração tenha sido não ter sido escolhido a participar do Orfeão, mas acabei me convencendo que não era por desafinação ou implicância do Irmão Fabiano, grande organista e diretor do Orfeão, mas sim uma falha na voz no dia em que participei da seleção. Realmente minha voz está mudando e às vezes dava umas falhadas.

Os amigos que vieram comigo do Cia. de Maria continuaram sendo os que mais convivia inclusive indo e vindo de bonde Malvino Reis pois todos moravam no Grajaú, ao contrário da imensa maioria que morava na Tijuca.

Fomos ultrapassando os obstáculos até fecharmos o Ginasial no final de 1955, quando o pai de um caro amigo, até hoje presente em nossos grupos, Gustavo Gama Lima, na época político e professor, foi nosso paraninfo, fazendo um inflamado discurso que muito nos empolgou.


Convite da Formatura do Ginásial - 1955



Eis os Formandos de 1955:




Não tivemos festa de formatura, como outros colégios faziam mas só pensávamos em iniciar logo o Científico, por um lado preocupados com a mudança de horário que nos obrigaria a deixar aquela tranquilidade de 12 às 16,30, exceto às quintas quando saíamos as 15 horas, para ter que chegar pontualmente às 7,15 nos obrigando a acordar diariamente às 6 da manhã

Entrei para a Academia Literária Castro Alves, presidida pelo veterano Sydney de Mello Lima. A essa altura já "engolia" livros de todos os tipos e escrevia no jornalzinho do colegio falando sobre música, a convite do seu diretor José Carlos Coelho Leal


                                    Carteira social da Academia Literária Castro Alves - ALCA
                                 

As salas de aula passaram a ser a dos fundos do Colégio, perto da estrabaria da Prefeitura, de onde às vezes o fedor de estrume, principalmente no verão, era nauseabundo.  Era impossível pensar naquela época que hoje quase todas as escolas, ainda mais as particulares, tem ar condicionado nas salas de aula.

Era um calor insuportável e ainda havia quem jogasse bola no recreio e voltasse suando para as aulas seguintes, não antes de rezar um terço, em pé.

Quando hoje nosso amigo José Luiz Rolim nos conta as agruras e durezas do Seminário em Mendes, com banhos frios às 6 da manhã etc achamos que o que passamos no Externato foi moleza.

As missas obrigatórias dos domingos eram seguidas de torneios de futebol em que nossos craques veteranos e contemporâneos mereciam nossa torcida que sempre se fazia presente

No dia do fundador dos Maristas, Padre Champagnat, 6 de junho, havia todos os anos missa campal no pátio principal do colégio, para onde carregavam o órgão Hammond do Irmão Fabiano, que fazia questão de encerrada a cerimônia dar um show, sempre terminando com Tico Tico no Fubá. Era um craque

Depois íamos assistir, no Internato da Conde Bonfim, à disputa da Taca Champagnat entre os dois colégios, que sempre era vencida pelos locais. Pudera, nosso campo era pequeno, de terra e com árvores no meio onde não dava nem para treinar enquanto o deles era grande, gramado e eles treinavam todos os dias

Havia a Cruzada Eucarística, o Apostolado da Oração e as quermesses para as Missões.

No final do científico eram apenas duas turmas, a que se prepararia para ciências exatas e a que seguiria para direito ou ciências biológicas. Fiquei nessa última, ainda em dúvida se medicina seria minha melhor escolha.  E não era, definitivamente. Nessa época, já beirando os 18 anos me aproximei mais desse grupo de vestibulandos de medicina. Lembro bem do Omar, Murilo, Tomás, Maurício, Marcello, Adib, Ronaldo Salles e Roberto Brandão. Todos se formaram e fizeram carreira. Eu desisti logo no segundo vestibular e fui trabalhar no Banco Boavista enquanto esperava o concurso para o BB. E no meio tempo, tocava piano e acordeon em bailes, shows e festas juninas. 

Naquele último ano tivemos uma novidade que foi uma festa junina, no colégio, com a presença de damas que dançaram a quadrilha com os felizes caipiras que registrei em foto. Pena que como fotógrafo eu não apareci.

Quadrilha no Externato - 1958 - Sergio Cunha, Ronaldo Salles, Paulo Ruy e Fernando Pereira


                                Turmas do Terceiro Científico:

                                            Turma A

                                                               Turma B

Abaixo, o Convite de Formatura de 1958


Eis os formandos de 1958:





No final do ano não tivemos festa de formatura, nosso paraninfo foi o Irmão Borges, o Bule, que depois passou a ser conhecido por Irmão Garetto.  Após o último dia de aula saímos para comemorar e nos despedir, em uma Churrascaria da Tijuca, na rua Uruguai, debaixo de chuva.



Comemoração ao final das aulas em 1958: José Baptista, Sylvio, João Cesar, Ronaldo Salles, Pedro Monteiro, Paulo Ruy, Antonio Camara, Roberto Jorás, Tomás, Arthur e Roberto Brandão.


        

 Nossos professores sempre serão por nós lembrados, nem sempre com carinho...



 

 Mas do "Seu" Manoel a maioria gostava muito:


 





                             2 - VESTIBULAR - OS ANOS DE INCERTEZA SOBRE O FUTURO - 


Durante o ano de 1958 frequentei o Curso São Salvador, preparatório para o Vestibular de Medicina, mas realmente não estava muito certo se essa seria minha vocação.

A amizade e proximidade com vários médicos, parentes ou ou não, entre os quais menciono o Maurício Monjardim (ortopedista), Fernando Guaraná (Oftalmologista), Edgard Drolhe da Costa (Dermatologista) e Dirceu Bellizzi (Pediatra), me fez apreciar cada vez mais essa belíssima profissão e despertar uma vontade de ao menos tentar segui-la.

Mas dois obstáculos se apresentavam à minha frente. O primeiro era a total incompatibilidade com as matérias exigidas, física, química e biologia. Por mais que tentasse eu não conseguia gostar de nenhuma. O segundo era mais difícil de ultrapasar: a minha tendência cada vez maior de me dedicar à música e à vida artística.

Gostava também de ir à praia e iniciava minha vida noturna, primeiro no Grajaú Country e depois nos bailes, festinhas, reuniões de seresta e, consequentemente não tinha pique para estudar no dia seguinte.

Como era de se esperar não passei no vestibular e resolvi tentar mais um ano. Nada mudou, muito pelo contrário, aumentaram os compromissos musicais e as oportunidades na vida artística.

Quando completei 19 anos, em outubro de 1959, meu pai me chamou aos brios e me disse que se eu não passasse no vestibular deveria pensar em trabalho, talvez até seguir sua carreira, no Banco do Brasil.

Acontece que o Banco já estava há um tempo sem oferecer concursos e não havia nenhuma informação sobre quando seria o próximo. 

Veio o vestibular e foi outra reprovação, aliás nem por milagre eu passaria porque se no primeiro ano estudei pouco para esse segundo não estudei quase nada e além disso já tinha me desencantado do sonho de ser médico e até pensei em fazer um vestibular para Direito, só para constar que ainda queria estudar.

Correu o ano de 1960, eu cada vez mais envolvido em conjunto, festinhas, aniversários e até São João, quando meu tio e padrinho, Haroldo Gross Lefebvre, me chamou e disse que havia falado sobre mim com um amigo, Fernando Machado Portella, que era Diretor Superintendente (hoje seria CEO) do Banco Boavista e que ele disse que o Banco poderia se interessar em me contratar para a área de câmbio, que estava precisando de alguém que tivesse um bom inglês.

E assim lá fui eu fazer uma prova no Depto. de Pessoal e fui aprovado.

Comecei a trabalhar em novembro de 1960 e até hoje dou graças a Deus porque foi assim que consegui me aposentar aos 50 anos em agosto de 1991, além de ter encontrado um ótimo ambiente de trabalho, ter responsabilidade junto a uma empresa organizada e respeitada, fazer novas amizades e aprender sob hierarquia, respeito e cumprimento de tarefas e horários. Foi uma grande escola.

No Banco Boavista fiz grandes amigos dos quais o único que ainda mantive durante alguns anos foi o Benjamim Wright porque o encontrava em Petrópolis depois que ele se aposentou e eu tinha uma pequena casa de veraneio lá no Valparaíso. 

Mas lembro com muita satisfação e carinho de todos, e citarei alguns pelo nome e sobrenome só para mostrar que a memória ainda está boa, além do mencionado Portella, Luiz Biolchini, Luiz Migliora, Léo Costa, Nelson Silva, Fernando Marcos Cavalcanti,  Renato Sião, Oswaldo Moreira, Benjamim Wright, Orlando Cardoso, Darcy Guimarães, Darcy Porto, Walter Lucas, Horácio Lucas e outros cujos sobrenomes me escapam, Simão, Arnold, Ubirajara e Lauro, esse último um dos maiores datilógrafos que já conheci.

Não abandonei a música mas tive que maneirar nas noitadas, inclusive porque trabalhava aos sábados de 9 ao meio-dia. A sede do banco era na Praça Pio X e eu tinha que sair pelo menos 1 hora antes do Grajaú. 

Nesses anos de 58 a 60 ainda arranjei tempo para aprender a jogar tênis, o que foi um grande diferencial, não só pelo esporte mas como pelos conhecimentos e amizades que angariei ao longo dos anos seguintes em vários clubes: Grajaú Country, Tijuca Tenis, AABB, Petropolitano e Campestre de Nogueira.

No Grajaú Country também fiz muitos amigos e guardo muitas lembranças. Carnavais, Festas de São João, Manhãs e Tardes Dançantes, Tênis, Volei e Futebol de Salão, Torneios de Biriba (ganhei 3, com 3 parceiros diferentes, um deles meu irmão).

E assim fechei a segunda década, na esperança do BB abrir um concurso (o que aconteceria em 1962) e desfrutando uma juventude feliz, cheia de música e amigos, vivendo com meu irmão e meus pais e dois cachorros, Blackie e Rex e passando as férias com meus tios na Lagoa, de onde ia facilmente à praia, Ipanema ou Arpoador, utilizando o bonde 21, Circular.  E à noite ia para o apartamento de minha avó, que era bem próximo, na rua Jardim Botânico. Ela preparava um bom lanche e tocava piano para mim. Debussy e Chopin de preferência. E lá dormia. 




 

 

             

 

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