PRIMEIRAS MEMÓRIAS
Depois
de muito pensar e adiar, finalmente resolvi publicar aqui algumas memórias de
fatos, pessoas e aventuras que compuseram essa grande jornada que já vai para
84 anos.
Amigos
sugeriram que eu escrevesse um livro mas achei que o universo a ser atingido
seria de um público pequeno, embora de alto nível, o que não justificaria uma
edição e além disso não tenho pretensões literárias e caso não pudesse mostrar
fotos ou indicar links e sites que ilustrassem melhor minhas narrativas, não
seria teria atingido o objetivo a que me proponho.
Pensei
em um blog um e-book, onde além do passado e o presente também vou dar uns
pitacos para o futuro, sem me preocupar com coisas polêmicas pois esse não é o
objetivo. Mas ainda não me decidi. São muitas características diferentes,
layouts, assinatura de plataformas, etc.
Por
isso resolvi começar a escrever no Word e depois decidir como será distribuído
ou disponibilizado.
Como é
muito mais fácil quando a gente segue um exemplo, um modelo, achei genial o
título e a idéia do meu grande amigo e colega desde os bancos do primário, Omar
da Rosa Santos. No último dia 19 de março, quando nosso grupo de colegas do primário
do Externato São José nos reunimos para comemorar nossa amizade e o dia do
padroeiro do Colégio, ele nos presenteou com mais um de seus escritos, este
intitulado de NONA DÉCADA.
Nele
ele faz um resumo de sua trajetória dividindo-a em décadas. E quando parei para
pensar no que pretendo escrever, percebi que também seria muito melhor seguir
esse caminho.
Só que
terei que fazer algumas subdivisões porque em cada década houve acontecimentos
que merecem ser tratados à parte, assim como o Grajaú, o Externato, a Atlética
(depois Country) o período musical pré profissional e profissional, os amigos
do Colégio, do Tênis, Petrópolis, o Banco Boavista, o Banco do Brasil e novos
amigos, New York, Búzios, as viagens, a Fenaseg, os oitenta anos e o momento
atual e o que esperar do futuro.
Só
para que fique registrado, nasci no Rio de Janeiro, na época Distrito Federal,
no dia 4 de outubro de 1940, no meio da guerra.
Mamãe levada
para a Casa de Saúde São José, em Botafogo, por um carro movido a gasogênio.
O
médico que acompanhou a gravidez de minha mãe (Etelvina Lago Youle) e fez o
parto normal, era amigo de infância de meu pai (Albert Louis Youle) e se
chamava Francisco Pereira da Cunha (Chico para os íntimos), que juntamente com
o Hans Stibich formavam uma trinca de travessos amigos da rua Capitão Salomão
no mesmo bairro.
Tempos
depois meus pais foram padrinhos do filho mais velho do Hans e Irene, Sergio
Stibich e o Francisco e sua esposa Luzinete foram padrinhos de meu irmão
Alberto Luiz.
Com os
pais o tratamento que meu irmão e eu sempre usamos foi “voce”, mas com muito
respeito, e chegava a estranhar quando visitava amigos e parentes que chamavam seus
pais de “senhor” e “senhora”, beijavam e pediam a benção aos padrinhos.
Chamávamos
nossos avós por Vovó Nazinha e Vovô Oscar e minha tia e madrinha por Titia. Mas
seu marido e meu padrinho, era só Haroldo, que era como ela o chamava. Avó
postiça tambem tínhamos, Vovó Lucinda (tia de minha mãe). Nossa Avó Adelaide e
sua irmã Lucinda criaram e educaram aquela linda criança que ficou órfão de mãe
(Tharcila) pouco depois do parto. O Avô Oscar trabalhava longe e não demorou
muito casou-se outra vez. Assim ganhamos também duas meias tiast (Aurea e Maria
Elisa).
Da
família Lago lembro do meu avô, suas filhas e um neto, Antonio José (afilhado
de minha mãe) fruto do casamento da Maria Elisa com um português muito
simpático, Jaime, que trabalhava na Brahma.
Pelo
lado Youle não havia nenhum contato pois todos eram ingleses, de origem
escocesa, e embora muitos tenham se casado ou até nascido no Brasil, naquela
altura os vivos ou voltaram ou nasceram na Inglaterra. Não havia como hoje a
facilidade de comunicação e as cartas eram muito esporádicas e escritas em
idioma que não dominava.
Pelo
lado de minha Avó Paterna, os Guaranás formavam quase um clã. Eram muitos mas
nunca lembro de ter assistido a família toda reunida por causa de atritos e “brigas
familiares”.
Porém uma característica de meu pai, que acho que herdei,
é que ele sempre se deu muito bem com todos os lados. Nunca tomou partido
nessas “brigas” e por causa disso, eu conheci e fiz amizade om todos os
sub-ramos Guaranás e hoje piloto um projeto que é a história e a Arvore Genealógica
Guaraná.
Nós
quatro, meus pais, meu irmão e eu, compusemos uma família feliz e pouco depois
de meu nascimento saímos de Botafogo para o Grajaú, bairro onde moramos em 4
ruas diferentes e só deixei aquele delicioso bairro quando casei, em 25 de
outubro de 1967, com 27 anos feitos e já trabalhando no Banco do Brasil,
emprego que consegui através de Concurso Público e onde meu pai também
trabalhou, de 1924 a 1956.
O
Grajaú faz parte de minha história, minhas memórias mais longínquas e onde eu
conheci meus primeiros amigos. Nossas duas primeiras residências, na rua Júlio
Furtado e na rua Caruaru eram alugadas, sendo que esta última em um sobrado.
Ainda a
guerra mundial não havia terminado e nasceu meu irmão, Alberto, em 13 de
outubro de 1944. Apesar de ter sido sexta-feira 13 ele sempre fez questão de
dizer que foi e é dia de sorte. Então morávamos na rua Caruaru, em um sobrado.
A
família que morava na parte de baixo era alemã. Um casal e um filho, mais velho
do que eu. Logo fizemos amizade, o quintal era comum e Paulinho Burnheim foi
meu primeiro amigo de infância.
Ele tinha
uma coleção de insetos, besouros e borboletas e depois formou-se em biologia.
Nossa amizade foi interrompida quando seu pai faleceu repentinamente e eles se
mudaram
Na
época soubemos que os Burnheim passaram vários episódios de perseguição e
abusos só pela sua origem. Havia muita gente que manifestava seu sentimento patriótico
através de ofensas a alemães e descendentes. Muitos anos mais tarde tive outro
amigo, já no BB, que me relatou casos semelhantes. Ele foi um funcionário
brilhante e um dos responsáveis por minha ascenção na carreira. Seu nome, Hellmut
Wimmer.
No
mesmo dia do nascimento de meu irmão, papai levou-me para conhece-lo na Casa de
Saúde São José, e no mesmo corredor paramos para ver minha prima, Regina Maria,
que havia nascido 4 dias antes. Filha de Maurício e Stella Monjardim, primos
queridos e amigos saudosos.
Por
coincidência, quando eu nasci fui
visitado por uma Monjardim, filha do irmão do Maurício, que na ocasião tinha
quatro anos de idade e foi flagrada carregando meu saco de fraldas. Ela me viu
ainda bebê e mutos anos depois ficamos amigos e eu a tinha como a menina mais
linda que conheci, com aqueles dois olhos lindos e um sorriso encantador.
Ficamos amigos para toda vida, embora quase sempre morando distantes um do
outro. Cada reencontro era um acontecimento. Um amor fraternal e que durou até
seu trágico desaparecimento. Vou falar muito dela nessa narrativa. Maysa
Figueira Monjardim.
Meu
irmão foi sempre mais travesso e levado do que eu. Mas desde a tenra idade nos
ligou uma grande amizade, que nos une
até hoje, quase dois oitentões que se falam todos os dias por telefone e sempre
que podem se encontram para almoçar e comemorar a vida e lembrar de tudo que
vivemos.
Uma
lembrança que não esqueço era de vê-lo chorando para cortar o cabelo na cadeira
do Chico, no Grajaú, e só sossegando quando lhe davam uma maçã. Meu padrinho
Haroldo o chamava de pica-pau por causa do penteado que as vezes deixava uma
ponta escapar e os primos da família Guaraná só o chamavam por Neném, porque
era o mais moço de todos na ocasião. Há pouco tempo uma prima, que já tem mais
de oitenta, perguntou-me como ia o Neném... eu respondi que ia ser bisavô em
setembro próximo e ela não acreditou.
Logo
depois nós também nos mudamos para a rua Itabaiana 215, uma pequena casa que
aos poucos meus pais foram reformando e fazendo um sobrado na parte de trás
onde construíram nossos quartos. O banheiro era em baixo e lembro que subíamos
e descíamos a escada cada vez que precisávamos visitá-lo.
O
quintal foi cimentado para que pudéssemos praticar esportes como ping-pong, gol
a gol e basquete, pois até uma tabela daquele esporte foi colocada.
As
memórias da rua Itabaiana são as que guardo mais claras e presentes. A casa, os
vizinhos, as peladas na rua e tudo mais. Foi lá que conheci aquele que foi,
depois de meu irmão, meu maior amigo, Armando Guimarães de Almeida Filho.
Fomos colegas
de primário no colégio das freiras (Companhia de Maria) no Grajaú, e do
Externato São José (na Tijuca, Barão de Mesquita). Amigo de todas as horas,
criança, jovem estudante e que apesar da vida nos ter separado uns anos (quando
ele esteve interno em Petrópolis e depois no Colégio Naval). Depois de casados
voltamos a estreitar nossa amizade e além de jantares, aniversários e reuniões
frequentes, fizemos muitas viagens juntos, inclusive para comemorarmos nossos
aniversários, o dele em outubro e o dele em setembro.
Armandinho,
como era chamado, fez parte do primeiro grupo de colegas de colégio (Cia. de
Maria) do qual hoje ainda se eontram o nosso mestre em medicina, Omar da Rosa
Santos, o advogado e ex-colega do BB, Carlos Guilherme Pinto Costa e, menos
presente, o Eng. José Antonio dos Santos, que fez carreira na grande empresa
Carvalh Hosken. Nós três seguimos juntos do colégio das freiras para o
Externato São José.
Foi
ainda na Itabaiana que minha avó, Nazinha (Duverlina Guaraná Youle) nascida em
24 de março de 1883, que já me havia ensinado as primeiras notas em seu piano
Pleyel, deu-me de presente um piano de armário marca Bechstein, usado, que ela
foi buscar em Niterói e veio no caminhão junto com 2 portuguêses que o
colocaram em nossa sala.
Comecei
logo a aprender e tive no Grajaú 3 professoras: Nancy, Icléia e Wanda. As
audições dos alunos nos finais de ano eram acontecimentos festejados por toda a
família. Alberto, meu irmão, também aprendeu piano mas apesar de ser também
muito musical, deixou as aulas pelas “peladas”.
Naquela
época começamos a frequentar o clube (Associação Atlética do Grajaú) e papai me
levava para assistir os jogos do grande time de basquete que em 1950 desbancou
o Flamengo e interrompeu uma série de mais de 5 campeonatos seguidos.
Em
1952, mia tia avó Zuzu (Edith Guaraná Caimi) que era casada com um italiano e
morava na Itália, ficou viúva e resolveu voltar para o Brasil e trouxe para mim
um acordeón, Paolo Soprani, que foi o instrumento que anos mais tarde usei para
me profissionalizar e inclusive tirar minha carteira da Ordem dos Músicos do
Brasil.
Na rua
Itabaiana, pouco antes de nos mudar para o casarão da Eng. Richard, minha mãe
me disse que precisávamos visitar uma prima distante dela que havia se mudado
para o mesmo quarteirão. Nòs no 215, o Armando no 251 e a prima em uma vila,
256 na casa 3. Mal sabia que mais de 10 anos depois eu casaria com a filha
dessa prima distante de mamãe, Suely. Isso foi há quase 57 anos
atrás...25/10/1967.
Mas
essa história eu conto na década de 60.
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